Hoje dia nove de dezembro do ano de dois mil e onze, preludio de lua cheia no Céu deste Rio Grande, eu Alan Otto Redü e Eder Bandeira Vieira, ambos editores do blog Retalhos do Rio Grande, fizemos nossa primeira peregrinação atrás de algumas fontes históricas materiais que ainda restam... Percorremos de moto em torno de 60 km e visitamos 12 cemitérios, basicamente todos de origem étnica alemã, a procura de alguns jazigos de personagens que participaram das escaramuças do sul, e um famoso cerro que existe e está de pé ainda na localidade de Canguçu Velho, subdistrito do Município de Canguçu/RS
Durante este primeiro trajetos que empreendemos apenas o mate e alguns pensamentos nos acompanhavam... Lembrei-me do filme “Diário de uma motocicleta” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Di%C3%A1rios_de_Motocicleta) é um filme de 2004 produzido pela Argentina, Brasil, Chile, Reino Unido, Peru, Estados Unidos da América, Alemanha, França e Cuba, dos gêneros aventura e drama biográfico, com direção de Walter Salles. Onde Che Guevara (Gael García Bernal) era um jovem estudante de medicina que, em 1952, decide viajar pela América do Sul com seu amigo Alberto Granado (Rodrigo de La Serna) em uma moto.
Lembrei del che... Lembrei-me de vários historiadores... E refletia sobre a cultura que se é produzida no interior do município de Canguçu.
Enquanto eu e o amigo Eder nos encantávamos com a arquitetura das casas, ou das molduras das lápides, todas escritas no idioma Alemão e Polmerano, que se descortinavam ante nossas vistas, comentávamos e refletíamos quem as fez assim? Quem as construiu? Entalhou? Que arte digna de um estudo mais aprofundado... Existem coisas que o cotidiano acaba acostumando aos nossos olhos, e não nos perguntamos como se construiu estes objetos? Ou quem as trouxe para ali, ou tampouco se alguém ainda um dia irá preservar estes patrimônios...
Voltamos... mas com uma certeza, precisamos lá retornar sim, em busca de mais vestígios...
A foto que ilustra esta postagem esta sobre um dos tantos pórticos que há nestes “cemitérios de campanha” abaixo um poema do Mestre Jaime Caetano Braun, publicado no livro Potreiro de Guaxos. Editora Sulina
Cemitério de Campanha
Cemitério de campanha,
Rebanho negro de cruzes,
Onde à noite estranhas luzes
Fogoneiam tristemente;
Até o próprio gado sente
No teu mistério profundo
Que és um pedaço de mundo
Noutro mundo diferente.
Pouso certo dos humanos
Fim de calvário terreno,
Onde o grande e o pequeno
Se irmanam num mundo só.
E onde os suspiros de dó
De nada significam
Porque em ti os viventes ficam
Diluídos no mesmo pó.
Até o ar que tu respiras
Morno, tristonho e pesado,
Tem um cheiro de passado
Que foi e não volta mais.
A tua voz, são os ais
Do vento choramingando
Eternamente rezando
Gauchescos funerais.
Coroas, tocos de vela
De pavios enegrecidos
Que tem Terços mal concorridos
Foram-se queimando a meio
Cruzes de aspecto feio
De alguém que viveu penando
E depois de andar rolando
Retorna ao chão de onde veio.
Mas que importa a diferença
Entre urna cruz falquejada
E a tumba marmorizada
De quem viveu na opulência?
Que importa a cruz da indigência
A quem já não vive mais,
Se somos todos iguais
Depois que finda a existência?
Que importa a coroa fina
E a vela de esparmacete?
Se entre os varais do teu brete
Nada mais tem importância?
Um patrão, um peão de estãncia
Um doutor, uma donzela?
Tudo, tudo se nivela
Pela insignificãncia.
Por isso quando me apeio
Num cemitério campeiro
Eu sempre rezo primeiro
Junto a cruz sem inscrição,
Pois na cruz feita a facão
Que terra a dentro se some
Vejo os gaúchos sem nome
Que domaram este Chão.
E compreendo, cemitério,
Que és a última parada
Na indevassável estrada
Que ao além mundo conduz
E aqueces na mesma luz
Aqueles que não tiveram
E aqueles que não quiseram
No seu jazigo uma Cruz.
E visito, de um por um,
No silêncio, triste e calmo,
Desde a cruz de meio palmo
Ao ir ao mais rico mausoléu,
Depois, botando o chapéu
Me afasto, pensando a esmo:
Será que alguém fará o mesmo
Quando eu for tropear no Céu???
interessante!!!não tem mais fotos????
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