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quinta-feira, 24 de junho de 2010
Museu Dr. Carlos Barbosa Gonçalves
Museu Dr. Carlos Barbosa Gonçalves, Jaguarão, Rio Grande do Sul
Texto de Andréa da Gama Lima*
O Museu Dr. Carlos Barbosa Gonçalves, localizado na cidade de Jaguarão, RS, na fronteira com o Uruguay, desponta entre os mais belos acervos históricos do Brasil. Trata-se de um prédio em estilo eclético, datado de 1886, que foi preservado, junto com sua mobília, como um ícone do requinte construtivo que predominou no sul do país, entre as classes abastadas, em fins do século XIX e princípios do século XX. O período é apontado como o ápice do desenvolvimento cultural e econômico do município que, embasado na indústria charqueadora e adquirindo gado em grande quantidade nos territórios orientais, acumulou riquezas e conquistou posição de relevo no cenário nacional. Da prosperidade de Jaguarão originou-se o belo patrimônio arquitetônico, a paisagem urbana reconhecida e destacada, em grande parte, por possuir conjuntos de casarios e não somente bens históricos isolados, que sobreviveram à evolução da cidade como testemunhos ou referenciais do passado.A construção foi dirigida por Martinho de Oliveira Braga e serviu como residência familiar do médico e político influente que atuou no meio Republicano, como um de seus principais agentes, em um momento de grande movimento e agitação na história do país. Carlos Barbosa Gonçalves nasceu na cidade de Pelotas em 8 de abril de 1851 e, logo na infância, passou a estudar em Jaguarão. Aos quinze anos foi para o Rio de Janeiro e obteve, primeiramente, o diploma de Bacharel em Ciências e Letras. Em 1870, na capital do país, recebeu o grau de Doutor em Medicina, então com 24 anos de idade. Em 1879, após uma estadia na Europa, retornou para a fronteira sulina e, no meio político, trabalhou em diferentes esferas. Engajado na causa abolicionista, foi presidente e diretor da Comissão de Liberdade da Sociedade Emancipadora Jaguarense e responsável pela criação do jornal A Ordem. Apontado como um dos fundadores do partido Republicano Rio-Grandense em Jaguarão, no auge de sua trajetória chegou à Presidência do Estado no ano de 1908, e nela permaneceu até 1913.Nos últimos anos de sua atuação no cenário político, foi eleito senador da República em 1920, cargo ao qual foi reconduzido em 1927. Em 1929 renunciou às atividades por questões de saúde e faleceu, algum tempo depois, então com 82 anos, em Jaguarão.A ideia de preservar a residência da família como tal partiu de sua última herdeira, Dona Eudóxia Barbosa de Iara Palmeiro, filha do Dr. Barbosa e de Dona Carolina Cardoso de Brum. Mantido através de uma fundação, responsável pela salvaguarda dos bens, o museu está aberto à visitação desde 1978. Com 23 cômodos e mais de 600 metros quadrados, seu maior destaque se dá em função da autenticidade dos artefatos que o compõe. Ao visitá-lo, é possível se apreciar a beleza da fachada que resistiu ao tempo, com seus elementos inspirados na arquitetura greco-romana, as portas e as janelas trabalhadas artesanalmente em madeira, e observar a delicadeza das grades com filigranas, que permitem o acesso ao jardim interno da residência, ornamentam escadas e gateiras, e oferecem um rico exercício para o olhar.No interior do casarão se vêem os detalhes do mobiliário em sua diversidade, que comporta desde objetos cotidianos de uso pessoal à valiosas obras de arte, fotografias, têxteis, e coleções características da época, a maioria em estilo neoclássico e art noveau. O museu Carlos Barbosa possui, ainda, farta documentação primária que se encontra em estudo e organização para que, em adequadas condições de proteção e manuseio, um dia possa ser acessada por pesquisadores e interessados na área.Além do patrimônio da família que usufruiu do apogeu do período oitocentista e, sem descendentes, deixou o século XIX em sua última geração, encontramos no museu um caminho que conduz à construção de conhecimentos acerca do passado por meio de leituras da cultura material. Embora se perceba a ênfase, não são apenas os registros biográficos da passagem do médico e governante político que despontam. A investigação das coleções de objetos e soluções arquitetônicas narra interessantes aspectos sobre como as sociedades foram se organizando historicamente, e as peças em salvaguarda incidem e reconstroem fragmentos de nossa memória social. A imensa gama de objetos importados da Europa, localizada no acervo, alude, por exemplo, a freqüente atividade de trocas e transações entre a pequena cidade do sul do Brasil e o Velho Continente. Chama a atenção o fato de que a residência, reconhecida por ser a primeira a ter luz elétrica na cidade, conserve, até os dias de hoje, as originais lâmpadas com filamento de carbono em funcionamento.Para se chegar aos quartos das filhas do casal, era necessário passar antes pelos quartos dos pais. Este é um dos reflexos das relações de gênero, presentes neste contexto social, que revela o cuidado que se tinha para se conduzir às mulheres de família, em castidade, à união sacramental. Ao transitar por um universo intimista, vemos em exposição as antigas vestes e adereços usados, em constante diálogo com a moda vigente.As camas projetadas individualmente, pequenas e estreitas, aludem à baixa estatura de seus ocupantes. A concepção detalhada dos móveis demonstra a importância dos artífices e marceneiros, muitos deles estrangeiros, que com a perícia técnica impressionavam e tinham seu público garantido nas elites brasileiras.O passadiço envidraçado, que circunda o belo jardim do pátio interno, foi uma projeção inovadora àquele momento, concebida com o intuito de iluminar e ventilar a casa, dividida entre cômodos de inverno e cômodos de verão. Em função dos riscos de infecções e contágios que assolavam o período, acreditava-se que a construção de paredes com o pé direito alto amenizaria a circulação de vírus. Em razão do mesmo motivo, a localização dos banheiros se dava comumente afastada das principais zonas da moradia. Quando o Dr. Barbosa optou pela disposição da peça no interior de seu palacete, causou impacto a decisão. Daí que, ao projetar a banheira, esculpida no próprio local de instalação, seu construtor trabalhou em mármore duas argolas, como se fossem alças de caixão, em alusão ao perigo de se dispor o quarto de banho em proximidade aos demais ambientes familiares. Estes são apenas alguns dos aspectos históricos e curiosidades que podem ser encontrados no local. Ao se contemplar o universo imaginário, muitos são os fantasmas que habitam o antigo casarão. Como uma ponte entre o passado e o presente, o Museu Carlos Barbosa possibilita múltiplas narrativas a partir do trabalho para com o seu acervo. Interessante para adultos e crianças é a visita guiada, conduzida pela equipe da fundação, que pode ser realizada de terça a sábado, das 9 às 11h e das 14 às 17h. O valor cobrado é de R$ 5,00 por pessoa.
*Licenciada em Artes Visuais - UFPel Mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural - UFPel
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Este trabalho é de Andréia da equipe da SECULT Jaguarão.
ResponderExcluirviajei no tempo encantada e emocionada com a narração de Gerusa sobre a vida da familia Barbosa.Encantei-me com cada detalhe e pude sentir vida em cada comodo e em cada objeto.
ResponderExcluirFicamos desejando ser um pouco da docilidade e delicadeza de Carolina, com sua arte francesa nos belos quadros,tão atuais hoje em dia.queremos ter um pouco da fibra, da força e da perseverança de Eudoxia, que nos deixou tudo intacto como se ainda estivessem lá a nos receber.No detalhe terno do costureiro, da maquinas, do aconchego da cozinha que nos convida a sentar e a tomar um chá.Obrigada Gerusa, por sua disponibilidade e paciência, ja no final da tardinha em nos mostrar e nos fazer viajar no tempo e dar vida a tudo que nos encantou.Obrigada.É um museu vivo, onde só faltamos pedir licença aos donos para entrar em suas vidas.Lindo, muito lindo!
Rosângela Pereira Barbosa.
olá Andréia, gostaria de saber se em teus registros constam a árvore genealógica da família originada por Carlos Barbosa.
ResponderExcluirValmira
Voçês precisam conhecer a estancia também é muito linda e enorme.no meu orkut tem lindas fotos.
ResponderExcluirSimone Rodrigues .Jaguarão
Como sou Jaguarense já conhecia o museu, mas levei minha filha de 9 anos para conhecer, ela ficou encantada. Dois dias depois queria voltar lá. Chegou em Porto Alegre contando tudo que ouviu da guia.
ResponderExcluirEstive no museu no início de junho de 2012 com um grupo de pessoas de Porto Alegre. Era uma manhã de domingo, muito fria mas lá estavam duas jovens que cordialmente nos apresentaram a casa deste ilustre médico e político. Ficamos encantanda com tudo, a casa e os objetos estão bem conservados. No quintal, minha amiga tirou uma foto do poço que ficava próximo as janelas do passadiço envidraçado e ao passar as fotos para o computador tivemos uma surpresa: atrás da janela de vidro apareceu uma mulher que não estava no nosso grupo e nem era nenhuma das moças que estavam mostrando a casa. Parecía um jovem senhora com cabelo bem arrumado, usando brinco, tinha jeito de uma pessoa culta. Então perguntamos: Sería Eudoxia ou dona Carolina a nos observar? Não sei, pode ser que ela estava alí zelando pelo seu patrimônio. Quem sabe, existe muita coisa que ainda não descobrimos. Foi uma manhã maravilhosa, tudo era muito aconchegante. Parabéns Jaguarão por manter esta casa intacta. É uma volta ao passado, com muita cultura e sabedoria.
ResponderExcluirNeste mês de julho/2012 também visitei o museu, é muito bonito e tem muita coisa para enriquecer nossos olhos e nossa mente. Parabéns aos Jaguarenses que conservam tão rico patrimônio. Quanto ao comentário acima acho ridiculo, parece que estão vendo chifre em cabeça de cavalo, olhe bem esta foto, provavelmente trata-se de alguma sombra ou mesmo uma outra pessoa do próprio museu que naquele momento não estava no grupo. Não acredito nisso, e se quizer mesmo dar autenticidade ao que diz publica a foto na internet.
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